terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Mar












Desde pequeno sonhei em velejar um barco à velas. Desde sempre sonhei em ter um barco e navegar pelo Oceano. Seja ele qual for.
Na verdade, no início, sempre quis velejar o rio que corta minha cidade. Mas com o tempo percebi que o calado do Rio não é tão profundo assim, e que se eu quisesse velejar com meu barco, precisava de algo mais profundo, mais intenso. Precisava de um calado maior, ao menos que eu tivesse uma máquina de dragagem e fizesse uma intensa operação para aumentar a profundidade do meu percurso náutico.
Revendo isso, percebi que era dispendioso demais passar por esse processo, e resolvi me largar em direção a lugares que fossem mais repletos de água, e principalmente, com maior profundidade para navegar. Um lugar que me levasse ao mar, um lugar com saída para o Oceano, para que assim, eu pudesse me direcionar a realizar os meus sonhos. Na verdade, meu sonho era o próprio mar.

A grande verdade é que sempre estamos velejando, indiferente da situação. O mar, o Oceano, é a metáfora mais certa para a nossa vida, pois nela, encontramos os mais diferentes ventos, direções, climas, monstros, piratas, ilhas, alucinações, calados, e neles, temos que tomar as mais variadas decisões, e as mesmas, geram as mais variadas consequências, das mais complexas até as mais simples. Nesse ínterim, aprendemos a ser quem somos, os velejadores que somos, ou os sobreviventes que somos. Velejamos, velejamos e velejamos, e por vezes, parece que nunca chegaremos aonde queremos chegar. Tomamos água na cara, tempestade no casco, velas se rasgam, mas mesmo assim, mesmo que não tenha um farol para nos apontar a direção, prosseguimos.

Quando navegamos por um rio, as necessidades são bem diferentes das necessidades de se navegar em um canal, uma lagoa, um mar ou um oceano. As técnicas são bem diferentes pelo fato que de que a dificuldade se intensifica. E eu quase que não sabia disso. Na verdade, mesmo tecnicamente nós saibamos disso, só entenderemos na prática, ao navegar, ao perceber que o mar te molha de verdade, e se tu não ficar atento e não conseguir planejar o mínimo que for, ele te engole . Literalmente, ele te mata.
Isso talvez seja a coisa mais importante de se aprender no mar (ou na vida), você morrer a qualquer momento na mesma proporção que você poderá encontrar uma ilha, ou algum porto que você possa ancorar. As vezes, na escuridão no mar (O mar é escuro a noite), o que queremos somente é um farol, algo que nos indique a saída de todo o caos. Outra coisa que aprendemos no mar : As coisas nem sempre saem como planejamos. A bússola nos mostra a direção, mas ela jamais nos mostrará onde vamos ancorar.

Há muitas outras coisas que complementam a metaforização do mar à vida. O canto das sereias, a ajuda de Deus, a traição dos tripulantes, a danificação da nau e etc. Tudo isso se aplica.

O mar é muito maior do que pensamos. Mas sempre esquecemos disso. Pelo fato de que nossos sonhos sejam grandes, não quer dizer que o tamanho do mar diminua. Muito pelo contrário, ela fica ainda maior. E isso quer dizer que nossa atenção deve ser redobrada. Isso quer dizer que temos uma imensidão de mar para velejar e não podemos fugir disso.

O que podemos fazer, é escolher onde queremos velejar : rio, lagoa, canal, aquário, piscina, laguna, tanque de lavar roupas ou o mar.

Mas uma coisa é certa, os navegadores mais perspicazes e valentes, são aqueles que navegaram o mar.

Nunca ouvi falar dos navegadores de piscina.


Samuka.

(Ao som de “ O FURTO – Sangue Audiência “)